quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Mundo Antigo:O Oráculo de Delfos

fonte:educaterra.terra.com.br


Ruinas de Delfos

Os peregrinos podiam desembarcar no pequeno porto de Kirrha ou ainda chegar por terra, seguindo uma via sacra que os conduzia para o alto, até às portas do templo de Apolo. No caminho, eles deviam fazer suas libações na fonte sagrada de Castalla, cujas águas serviam para purificá-los antes que a entrevista fosse realizada. Encravada na rocha havia a seguinte frase: “Ao bom peregrino basta-lhe uma gota, ao mau, nem um oceano poderia lavar a sua mancha”. Era preciso também realizar sacrifícios aos deuses, imolando um cordeiro ou de uma ave esganada e exposta às brasas.
Como a procura pelas previsões era muita, marcar uma audiência demorava um bom tempo, obrigando a que, com o passar dos anos, outras instalações fossem construídas para abrigar os visitantes, formando um verdadeiro complexo de pequenos santuários, habitações e pousadas para acolher aquela gente toda. Como observara Cícero (De advinationes), não havia povo ou corpo político conhecido que pudesse dispensar os adivinhos, os arúspices ou os magos, para levar a diante as suas empreitadas. A questão para a qual se desejava uma orientação era firmada numa tabuinha de argila e, em seguida, levada à uma das sacerdotisas, chamadas de pitonisas (referência à Píton). Entendida a mensagem, ela recolhia-se para o interior do templo e, sentada num trípode (um banco de três pés) começava a aspirar os “vapores divinos” que emanavam das rachaduras abertas no chão.(*).
Dava-se então o momento do transe, quando a pitonisa, sob efeito do “fumo sagrado”, começava a dizer coisas sem nexo, palavras cifradas que aparentemente não tinham nenhum sentido, mas que eram religiosamente anotadas pelos sacerdotes. Esta linguagem críptica, confusa e enigmática, ficou conhecida como “sibilina”, talvez por ter sido associada a uma das pitonisas mais famosas chamada Sibila (nome adotado por várias outras sacerdotisas que a seguiram na função de serem as intermediárias entre Febo Apolo e os humanos).
(*) O geólogo americano Jelle Zellinga de Boer afirmou que a zona do monte Parnaso assenta-se sob uma fratura geológica subterrânea da qual fluem gases hidrocarburetos e hidrossulfúricos ( tais como metano e etano) que seriam os responsáveis pela revelações em transe das pitonisas.

A Pitonisa
Glória e clausura
Estima-se que o oráculo de Delfos tenha começado a funcionar ao fim do segundo milênio antes de Cristo, isto é, entre 1200-1100 a.C. , tornando-se célebre, entre tantas outras coisas, por ter previsto o fim do reino da Lídia e eternizando-se para sempre na literatura ocidental ao ser citado na peça de Sófocles “Édipo Rei”, quando informara ao personagem central de que ele “mataria o pai e casaria com a própria mãe”. Não houve grega ou grego famoso naqueles quase mil e quinhentos anos de prática da vidência, que não lhe fizesse uma visita, tentado averiguar que futuro os aguardava. Fazem parte da sua galeria ilustre uma boa quantidade de generais e conquistadores, inclusive os comandantes romanos que ocuparam a Grécia no século II a.C. Consta que, depois da sua quase destruição ocorrida no século VI a.C., quando o templo foi reconstruído com dotações pan-helênicas, coube ao imperador Nero submeter o oráculo de Delfos e suas cercanias a um saque que lhe rendeu mais de 500 estátuas levadas depois para Roma. O local foi fechado finalmente pelo imperador Teodósio, em 385, por ocasião da sua campanha antipagã , pois o cristianismo encaminhava-se para tornar-se a religião oficial do Império Romano e via aquele espaço oracular como um centro da superstição a ser combatida.
Conhece-te a Ti Mesmo
Porém, Delfos já se encontrava em total decadência bem antes de ser definitivamente enclausurado, naufragando com o declínio do paganismo. Quando o iconoclasta imperador Juliano, o Apóstata (331-363), mandou fazer uma consulta ao oráculo, dizem que a resposta enviada a ele pelos sacerdotes que ainda ali restavam foi: “Diga ao rei isso: o templo glorioso caiu em ruínas; Apolo já não tem um teto sobre a sua cabeça; as folhas dos lauréis estão silenciosas, as fontes e arroios proféticos estão mortos.”

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