sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Frei Luiz





Frei Luiz nasceu, como todos sabem, em 29 de junho de 1872 na aldeia de Marienfield (que quer dizer campo de Maria), na região de Westfalia, na Alemanha. E desencarnou no dia 8 de abril de 1937 em Petrópolis com quase 65 anos.

 Desses 65 anos de vida, ele passou 43 no Brasil porque chegou aqui, à Bahia, em 10 de julho de 1894 com 22 anos, como noviço franciscano. Dominou muito bem nosso idioma. Falava e escrevia o Português com desenvoltura, tendo adotado o Brasil como sua pátria. Seus pais foram Herman Reinke e Maria Reinke, católicos convictos, em uma Alemanha dominada, na época, pela prepotência prussiana e por um regime militarista.

A família Reinke, de camponeses, muito antiga na região, vivia dos produtos do campo em sua propriedade rural com seus vizinhos. O casal Reinke tinha apenas uma filha, Gertrudes, de 14 anos, quando nasceu seu filho varão, a quem deram o nome de Theodoro Henrique, que mais tarde, na carreira sacerdotal seria trocada. 

Logo após o nascimento do menino, seu pai, Herman Reinke faleceu, deixando sua educação entregue à mãe e à irmã. Enquanto sua mãe Maria ficava muito ocupada em cuidar da propriedade, o pequeno Theodoro Henrique ficava aos cuidados da irmã que, inexperiente, levava a extremos sua responsabilidade. Julgando fazer o melhor pelo irmão ela era muito severa e rigorosa com ele.

Por isso nosso meigo e bondoso Frei Luiz só conheceu na infância rigor e até castigos corporais!

 








A mãe de Frei Luiz, Maria Reinke, era médium, como seu filho demonstrou ser também, desde cedo. Ela previa acontecimentos tais como temporais e mortes, localizava por vidência animais desgarrados no campo, etc.

Ao tempo da meninice de Frei Luiz, as escolas primárias e secundárias católicas haviam sido fechadas pelo governo e as leigas, segundo o regime prussiano, tinham como objetivo transformar cada aluno em um soldado. Para isso promoviam lutas entre grupos de alunos e como Frei Luiz, de temperamento tão bom, recusava-se a lutar contra seus companheiros, apanhava de vara e varapau.

Dos 8 aos 14 anos (de 1880 até 1886) ele foi obrigado a cursar a escola local, passando por todos esses sofrimentos.

Desde aquela época, Frei Luiz, através de sua mediunidade, "sonhava" com um frade de hábito marrom, trazendo ao colo um menino muito iluminado e "via" também uma terra distante, cheia de flores azuis, com montes elevados e de clima frio, para onde ele vagamente "sentia" que iria um dia.

Finalmente, em 1887 a Alemanha se submeteu ao Papa e o menino pode receber do vigário local suas primeiras aulas de religião católica, logo demonstrando vocação para o sacerdócio.

E com muita tenacidade consegue vencer a oposição da mãe que o queria à frente da propriedade, cuidando da fazenda.

 




Assim, em 1890, com 18 anos, ele parte para o Colégio Seráfico de Harreveld na Holanda, da ordem de São Francisco de Assis. Em maio de 1894, Theodoro Henrique Reinke recebe o hábito de noviço franciscano e troca seu nome para Frater Aloysius (irmão Aloysio), que mais tarde, no nordeste do Brasil será simplificado para Frei Luiz.

Ele foi o 1º aluno do seminário do Harreveld, inteligente e brilhante, segundo Frei Ciríaco que o escolheu juntamente com outros quarenta jovens para serem missionários no Brasil.

Frei Luiz e seu grupo embarcaram para o Brasil em 21 de junho de 1894 no vapor alemão "Argentina" partindo de Hamburgo. Chegam à Bahia em 10 de julho e vão para o Convento de São Francisco de Assis que fica em um morro denominado o porto. O convento é fechado, parecendo uma fortaleza. Frei Luiz, porém, mesmo vindo para a missão, não reconhece o lugar de suas vidências de menino...

Estava ele, então com 22 anos; um jovem alto e magro, de aparência frágil, como relatou Frei Estanislau ao biógrafo Américo M. de Oliveira Castro.

Infelizmente, as condições sanitárias no Brasil naquela época não eram muito boas e o jovem Frei Luiz, atacado por mosquitos, desenvolve febre amarela. Quando se recupera, ainda debilitado, adquire beribéri e logo após, tuberculose! Vai se enfraquecendo cada vez mais e chega a ter hemoptises! O Alto, porém, sempre vela por aqueles que têm boa vontade e praticam o bem! O que aconteceu então foi narrado pelo próprio Frei Luiz a seu amigo biógrafo Américo M. Oliveira Castro, e por isso não podemos por o fato em dúvida.

 



Certa tarde, quando Frei Luiz doente e fraco, estava sentado à sombra de uma mangueira no pomar, viu chegar perto dele um velhinho, simplesmente vestido, que lhe disse (como se estivesse lendo seus pensamentos) que não desanimasse: ficaria curado se tomasse de um só trago o conteúdo leitoso de um vidro que tirou do bolso. Ante o olhar brilhante e incisivo do velhinho e de sua suavidade paternal, Frei Luiz, persuadido, aceitou o convite e bebeu o estranho remédio!

O velhinho sorriu e afastou-se...

Mais tarde, por mais que perguntasse, Frei Luiz não conseguiu identificar seu benfeitor - ninguém sequer o vira e o porteiro não deixara pessoa alguma entrar...

Certamente tratava-se de uma entidade materializada trazendo do Espaço, o remédio necessário, pois, logo após, os escarros de sangue cessaram e Frei Luiz se curou.

Pergunta-se se o estranho líquido não conteria também a seiva da planta "aveloz" tão comum no nordeste e tão útil no tratamento de diversas enfermidades, até do câncer...

Recuperado, Frei Luiz vai então para Olinda, onde termina seu noviciado. Completa seus estudos na cidade próxima de Ipojuca e vai receber as chamadas Ordens Maiores de Subdiácono e Diácono em Recife.

Então, por causa da sua saúde precária devido às doenças que sofrera, é recomendada sua transferência para um local de clima mais saudável e ele chega à Petrópolis em 02 de janeiro de 1900 onde finalmente reconhece o lugar dos sonhos e das visões de sua meninice! Vai morar no Convento Franciscano do Sagrado Coração de Jesus anexo à igreja do mesmo nome. Lá, com 28 anos, ele se ordena sacerdote em 24 de janeiro de 1900 e reza sua 1ª missa em 4 de março do mesmo ano.




 
A partir de então, Frei Luiz se dedica a orientar, auxiliar e visitar todos os necessitados da região. E não se restringe a Petrópolis; estende seu ministério a Correias, Nogueira, Araras e Itaipava, não importando a distância ou as dificuldades do caminho!

Sobre seu trabalho, escreve Carolina Nabuco em seu livro "Oito Décadas" (que Dr. Rocha Lima transcreveu em "Frei Luiz o Operário do Brasil") :

"Pelas ruas de Petrópolis circula ainda em minha memória uma figura que venerei; a de um franciscano, Frei Luiz Reinke. Desde o veranista mais ilustre até o último rústico dos morros, Petrópolis toda tinha-o no coração. Durante mais de trinta anos gozei de sua amizade carinhosa. Habituei-me a vê-lo sempre correndo pelas ruas, apressando-se em atender a um qualquer chamado, sempre em busca de dores a aliviar."...

" Sua missa era de 20 minutos, seguida às terças-feiras, pela bênção de Santo Antônio que ele dava aspergindo água-benta com uma rosa que, no final, era recolhida como relíquia por alguém da assistência."

"Duas gerações de petropolitanos conheceram e saudaram-lhe a figura. Nos primeiros tempos mantinham distância, em virtude de seu hábito e postura sacerdotal, respeitosamente. Passados os primeiros contatos, sobrevinha uma atmosfera amorosa, como que atraindo as crianças, à semelhança do néctar das flores às borboletas. Superava-se, então, a dificuldade de comunicação. As crianças corriam a pedir-lhe a bênção e os adultos lhe ofereciam condução para os chamados naqueles velhos tilburis" . (espécie de pequena charrete puxada por um só cavalo.)...

Uma característica sua era o uso, quase abusivo dos diminutivos que eram uma emanação de seu sentimento paternal por todos, nos conta Carolina Nabuco: "Todas as idades recebiam o seu amparo. A idosa se sentia criança ao ouvi-lo dizer - Você está muito idosazinha, minha filhinha. Os filhinhos e filhinhas, os Josezinhos e Mariazinhas eram outorgados a quem nunca tinha recebido esses apelidos. "... "dirigidos com a mesma naturalidade a um preto velho ou a um magnata da política. "








"Até ao maior inimigo de Deus, portanto o Demônio, ouvi Frei Luiz chamar do púlpito como - o pretinho do Diabinho"!...

"Frei Luiz tinha pré-ciência de fatos e tinha antenas para receber misteriosamente não só o sentir alheio, mas acontecimentos por telepatia, chegando por exemplo em casa amiga em hora especialmente matinal, dizendo - senti que as filhinhas precisavam de mim - logo antes um telefonema do Rio avisando de um doente; doença mortal em pessoa da família."

Conta-nos Américo M. de Oliveira Castro que certa vez estando Frei Luiz em sua casa, sua esposa perguntou-lhe se havia sido chamado para visitar um amigo da família o comandante Leopoldo da Nóbrega Moreira que estava muito mal Frei Luiz disse que não havia sido chamado, mas pôs-se a orar, recolhido em silêncio. Após alguns minutos disse, olhando o relógio angustiado: Ah! A essa hora o Comandante está passando revista aos anjos!

Poucos minutos depois, o telefone tocou dando a noticia da morte do comandante.

Para realizar seu trabalho, Frei Luiz tinha que ir a pé, ou de condução comum com seu andar vigoroso. Sabendo disso, o dono da fazenda Santa Fé, em Areal, Dr. Gerônimo de Castro, deu-lhe um belo cavalo branco - o Batalha - e mais tarde, quando este morreu, um outro, baio - o Guarani. 





 Frei Luiz adorava os animais e muitas vezes desmontava para poupar os cavalos, e subia íngremes encostas a pé! Amava também os cães, os pássaros, as abelhas e até as formigas. Sobre seu trabalho nesse tempo. Frei Luiz guardava carinhosas lembranças, como, por exemplo, de suas visitas ao distante bairro de Mato Grosso que era uma verdadeira floresta!

 Lá moravam os fabricantes de carvão vegetal - os carvoeiros - ariscos, desconfiados dos visitantes, mas que logo foram conquistados pelo amor e dedicação de Frei Luiz, tendo chegado até a construir uma capelinha onde ele ia oficiar, rezar missas e realizar casamentos, muitas vezes em conjunto, cristianizando uniões já existentes. Depois, todos dançavam ao som da viola quando os carvoeiros, em sua simplicidade, queriam que Frei Luiz também dançasse!

Ao que ele sempre se esquivava dizendo: "mais tarde, meus filhinhos" "Depois, depois..." até que eles se esqueciam.

Tão bem se saiu Frei Luiz em seu ministério, que Dom Silvério, bispo de Mariana, resolveu chamá-lo para ser vigário na cidade mineira de Bicas, em 1902, e embora ele preferisse ficar na sua querida Petrópolis, parte obedientemente. Lá, como sempre, seu sucesso é enorme; "sua fé, sua paciência e sua ardente caridade lhe granjeiam o carinho e o respeito de todos", nos diz Célia de Goes.

E tão eficiente se mostra que o Bispo de Petrópolis, Dom João Braga, o chama de volta e o nomeia seu secretário! Assim, ele volta as suas queridas montanhas e vales floridos e a seus paroquianos.

Antes de prosseguirmos falando dessa segunda fase de seu ministério é interessante fazermos um parênteses para comentar sobre a personalidade de Frei Luiz, que era bondoso, muito simples e modesto, de gestos suaves e serenos, aparentando até certa timidez, mais recato do que outra coisa, mas nos momentos precisos demonstrava coragem, firmeza e sangue frio, como durante os vários atentados que sofreu, ou apaziguando comícios de operários..

 







Vale dizer também que não devemos ver em Frei Luiz somente a bondade e a dedicação aos necessitados: essa é uma das facetas de sua personalidade, entre muitas outras!

Sabemos que seu trabalho no campo religioso, como sacerdote franciscano foi maravilhoso e lhe granjeou o carinho e a gratidão de todos que o conheciam.

Ele foi também grande médium. Devido a sua pureza, bondade e ligação com Deus, ele se tornou um canal através do qual podia fluir o auxílio divino aos que mereciam. Muitas de suas bênçãos se transformavam em passes curadores. Como exemplos podemos citar o caso da Sra. Iracema Grunervald. 

Ela, ao sair da mercearia onde trabalhava para almoçar em casa, encontrou Frei Luiz e pediu-lhe a bênção. Ela sofria de constantes e fortes enxaquecas e neste dia estava sentindo muita dor. Frei Luiz percebeu o fato e lhe disse: "Minha filha, você está sofrendo de terríveis dores de cabeça. Vou curá-la para toda vida. Aplicou-lhe passes na cabeça (impôs as mãos sobre sua cabeça) e ela ficou imediatamente curada até hoje, quando já tem 70 anos, nos relata Dr. Rocha Lima em seu livro.

De outra feita, procurado pelo pai de uma moça obsidiada que se trancava no quarto, despida e agressiva, disse-lhe: "Traga-me uma camisola que ela já tenha usado." Frei Luiz a abençoou fazendo o sinal da cruz, dizendo-lhe: "Vá com absoluta fé em Jesus, leve-a a sua filha, vestindo-a." Assim aconteceu e a moça ficou curada.

Em outro caso Frei Luiz foi chamado para ajudar outra moça obsidiada que morava no bairro de Mosela. Ela ficava constantemente atuada, passando mal. Padres eram chamados para exorcizá-la sem sucesso e alegavam que ela estava possessa do "Diabo".

 




Certo dia, Frei Luiz foi chamado para atendê-la e utilizando sua percepção mediúnica e a grande bondade de seu coração logo conseguiu conhecer e atender ao "obsessor", que não era outro senão o avô da mocinha! Quando desencarnara, ele havia escondido vários contos de réis destinados aos pobres atrás da estampa de um quadro da sala de estar. Ele vinha procurando comunicar-se com a neta para que o dinheiro fosse finalmente entregue aos necessitados! Ela, jovem médium ainda despreparada e ignorando tudo a respeito das comunicações, não conseguia sintonizar bem com as vibrações do avô. Somente sentia sua influência e passava mal! O dinheiro foi achado no local indicado, destinado aos pobres como o espírito desejava, e a mocinha ficou plenamente sã!

Outra faceta importante de sua vida é seu trabalho no campo social em prol dos operários em Petrópolis nos anos que se seguiram à 1ª Guerra Mundial, de 1914 a 1918. Preocupado com a irreligiosidade que grassava no mundo e com o avanço do comunismo, ele fundou em Petrópolis o "Centro Católico" que visava reunir os trabalhadores da cidade em moldes cristãos. Editavam também um jornal chamado "Centro".

Para as mulheres, ele criou a "Obra das Filhas do Sagrado Coração" em um grande salão onde elas recebiam além da orientação religiosa, aulas de corte, costura e bordado. O "Centro Católico" tinha até um salão para a projeção de filmes para seus associados!

Infelizmente, mais tarde, por falta de apoio financeiro, o "Centro" teve que ser fechado...

Um terceiro aspecto da personalidade de Frei Luiz nos mostra sua grande cultura e intelectualidade.

Dominando perfeitamente o português, Frei Luiz, em 1905, cinco anos após ter recebido as chamadas Ordens Maiores, dedica-se ao estudo da vida de seu protetor, Antônio de Pádua e escreve "Vida e Culto de Santo Antônio", que recebeu elogios até do grande poeta e literato Conde de Afonso Celso.

Escreveu ele: "Frei Luiz acaba de publicar na tipografia da escola, obra digna de caloroso encômio. É a Vida e Culto de Santo Antônio. Quanto ao fundo, é traçado com elegância, concisão, primoroso estilo, em que à singeleza se alia o fervor crente. Santo Antônio tem por lei a patente de oficial superior do Exército Brasileiro. Esta nova edição de sua fé de ofício, devida à nobre pena de Frei Luiz, fez jus a que a crítica lhe apresente armas, em continência!"

Além deste livro, Frei Luiz escreveu também "Belezas da Alma Humana"(mais tarde queimado, não se sabe porque). Traduziu do alemão uma história mística que recebeu em português o nome de "Josefina".

Foi também professor da Escola Primária S.José mantida pelos franciscanos e lecionou Dogmática e Direito Canônico no Seminário Franciscano de Petrópolis.Seus sermões, durante as missas, eram ouvidos com grande atenção por todos, inclusive intelectuais. Como se pode ver, Frei Luiz era eclético!

Voltemos, porém, a sua história, quando ele retornou a sua querida Petrópolis...

 




Há sobre esse período de trabalho de Frei Luiz muitos fatos interessantes relatados por seus biógrafos e alguns deles pelo seu sacristão, Carlos Sivero, que Célia de Goes conheceu e entrevistou.

Frei Luiz costumava administrar remédios naturais a seus doentes; fazia tratamento fitolorápico, usava plantas, capins, raízes e chás. Eram: capim limão, erva cidreira, folhas de goiabeira, de mangueira etc. Esses remédios, aliados a seu amor e desejo de curar eram excelentes e surtiam sempre grande efeito! Muitas vezes ele orava à cabeceira de uma criança e ela prontamente se restabelecia!

Nem tudo, porém ,eram flores... Por diversas vezes Frei Luiz foi alvo de perseguição e atentados.

No convento, muitas vezes ele foi criticado, acusado de "espírita" e punido por seus superiores. Era também muito invejado, por causa de sua enorme popularidade e também pelo fato de ser sempre procurado para receber donativos dos fiéis, pois ele sempre distribuía rigorosamente tudo entre os pobres, sem retirar nada para uso do convento! E o público sabia disso.

Quanto a atentados, há diversos relatos. Certa feita, Frei Luiz voltava a cavalo, já tarde da noite, por uma estrada deserta quando, olhando para cima, viu um homem sobre um barranco com uma enorme acha de lenha nas mãos pronto a descarregar um golpe sobre sua cabeça! Frei Luiz o fitou firmemente e orou pedindo proteção a Deus. O homem, apavorado, deixou cair o cacete e fugiu - só que com os braços levantados, sem poder mais baixá-los!

Lenda ou verdade, perguntamo-nos...

Américo M. de Oliveira Castro afirma que estes fatos são verdadeiros e que até 1942 esse homem ainda vivia e tinha os braços paralíticos.Em outra ocasião - e esse fato é com certeza verdadeiro, porque foi relatado pelo seu sacristão Carlos Sivero, que dizia que quando pedia esclarecimentos a Frei Luiz sobre o assunto, este sorria e dizia apenas: "Deixa pra lá, Carlos..."

O fato foi o seguinte: uma tarde, dois homens foram buscá-lo para dar extrema-unção a um moribundo. Frei Luiz, com a solicitude costumeira os acompanhou, mas após descerem por uma picada no mato e se embrenharem em um bosque, os homens declararam que iriam enforcá-lo ali mesmo! Não havia nem a quem pedir socorro! Frei Luiz só podia rezar fervorosamente... Um dos homens subiu em uma árvore previamente escolhida por eles, enquanto o outro vigiava Frei Luiz embaixo, mas não conseguiu fazer o laço na corda que levava!

 




"Desce daí seu pateta" ,disse o outro. "Eu faço o serviço", mas também não conseguiu fazer o laço! Então, assustados, sentindo que havia algo estranho que os impedia, fugiram deixando Frei Luiz no meio do mato sozinho!

Conta-se também um outro caso fantástico. Certa noite, de temporal, Frei Luiz foi buscado no convento por três homens com capas e chapéus de abas baixas em uma charrete puxada por dois cavalos, para ver uma pessoa que, segundo eles, estava morrendo e desejava se reconciliar com Deus...

Frei Luiz tomou sua bolsa, que continha as hóstias e os óleos para a extrema-unção, um guarda-chuva e os seguiu prontamente. Após cerca de meia hora de corrida, os homens fustigando os cavalos, chegaram ao sopé de um morro onde, na encosta, havia um casebre. 

"Casa de pobre", disse um dos homens, rompendo o silêncio. "Casa de pobre, não", respondeu Frei Luiz, "para mim é a casa de um filho de Deus que sofre e pena. Vamos depressa". Mas chegaram à porta Frei Luiz percebeu imediatamente que o homem estava morto e disse: "Pobrezinho, cheguei tarde, ele já morreu" e foi confirmar tomando-lhe o pulso.

 Viu, então, em sua mão, um punhal! Assombrados, os homens que o haviam trazido foram também verificar a morte do companheiro e, apavorados, contaram que tudo fora um plano para assassinar Frei Luiz e que o homem estava bem vivo e são quando saíram! E fugiram, deixando Frei Luiz com o morto... Frei Luiz teve que andar muito, até obter condução de volta ao convento e à polícia...

Como se vê, mesmo um espírito iluminado e bom tem seus inimigos e também muitas vezes pode sofrer vicarialmente, como Dr. Rocha Lima muitas vezes sofreu; pode-se ser atacado pelos inimigos daqueles a quem se ajudou. Mas vejam também como o Alto sempre protege os que estão no caminho do bem!

Aquele homem certamente morrera por uma causa natural; provavelmente sua própria emoção desregrada, suas más vibrações desencadearam um ataque cardíaco que o vitimou.

Sabemos que nossos pensamentos e nossas vibrações plasmam em nós mesmos nosso estado d'alma. Respiramos sempre no clima de luz ou de sombra em que vibramos, nos diz Emmanuel. E certamente Frei Luiz vivia cercado de luz e protegido.

O sacristão Carlos Sivero relatou à Célia de Goes que certa vez Frei Luiz, na igreja, doutrinou o obsessor de um menino, que, ao sair, provocou um grande estrondo!

Também, certa vez, ao acabar a missa, Frei Luiz apertou-lhe a mão e o sacristão se viu levitando a um palmo do chão. Quando Frei Luiz soltou-lhe a mão, ele voltou ao chão, suavemente.

 







Nossa irmã Neide Marques relatou-me que conheceu uma senhora, cuja irmã foi casada por Frei Luiz que até aparece nas fotos do casamento. Ela costumava freqüentar a igreja onde Frei Luiz oficiava e contou várias vezes, concentrado, durante as missas, ele se elevava a cerca de um palmo do chão, sob as vistas dos fiéis!

Quando se voltava do altar para falar ao público, descia ao chão!

Como já dissemos, ele era um médium de diferentes tipos de mediunidade...

Anos mais tarde, Frei Luiz ganhou dois carros (com motoristas) para poder realizar seu trabalho e suas visitas. Tratava-os com muito carinho e lhe deu nomes: o primeiro foi "Luizinho" e o segundo "Andorinha".

Quando algum dele enguiçava, ele, prontamente, como primeira providência, lhes aplicava a bênção de santo Antônio ao motor!

Frei Luiz adorava música e, certa vez, ganhou de um fazendeiro uma excelente gaita - uma harmônica - só que não sabia tocá-la bem. Ia praticar no sótão do convento, e, mais tarde o Superior, achando que ele incomodava os outros, a tirou e guardou...

As missas de Frei Luiz eram muito concorridas, especialmente as das terças-feiras quando ele dava bênçãos de Santo Antônio.

Frei Luiz costumava abençoar seus paroquianos individualmente. Colhia flores do altar e as usava para aspergir água-benta e, muitas vezes, dava as flores aos fiéis.

Foi o que ocorreu com a poetiza Maria Lyra Pereira conforme ela relatou à Célia de Goes.

A poetiza havia recebido uma proposta de casamento de um certo rapaz e durante a missa escolheu em pensamento, um determinado cravo rajado que estava em uma jarra no altar. Pensou que, se Frei Luiz lhe desse lhe desse aquela flor, isso seria o sinal de que o casamento daria certo e ela seria feliz!

Frei Luiz abençoou os fiéis, dando flores a alguns. Parou a sua frente com várias flores nas mãos, mas foi buscar o cravo escolhido no altar e lhe disse: "É essa flor que você queria, não é?" Ela a conserva até hoje, já transformada em pó, e vive muito feliz com seu marido!

Por falar em flores, Américo M. de Oliveira Castro diz que as flores preferidas por Frei Luiz eram lírios e violetas, mas o Sr Carlos Sivero relatou que após a missa, ele sempre levava um cravo para sua cela...

 






É interessante dizer que, sem saber disso, sempre que eu ia à Petrópolis, costumava levar lírios e cravos para colocar no vaso junto ao busto de Frei Luiz, na entrada do Convento do Sagrado Coração de Jesus...

Frei Luiz vinha ao Rio de Janeiro várias vezes em seu trabalho, e, em 1º de junho de 1914 sofreu um sério acidente de carro, em Botafogo, quando seu carro, foi abalroado por um pesado caminhão de tração animal.

Frei Luiz ficou banhado em sangue, ferido na testa, nariz e boca. Foi operado por seu amigo, o cirurgião Dr. Jorge Gouveia. Como conseqüências Frei Luiz teve uma marca na testa, pequena deformação no nariz e vários dentes partidos, o que lhe dificultou um pouco a dicção.

Quando ele nos fala em voz direta no Santuário na montanha, esse sibilo é perfeitamente perceptível, mostrando quão perfeitamente ele plasma seu perispírito.

Gostaria de dizer aos irmãos que ainda não conhecem os locais aonde Frei Luiz viveu e trabalhou, onde ele costumava orar e meditar, que vão à Petrópolis, que vão ao Convento do Sagrado Coração de Jesus, que o visitem !

É emocionante, andar pelos corredores que ele tantas vezes percorreu, ver sua cela, onde infelizmente nunca conseguimos entrar, pois o frade que atualmente a ocupa, costuma fechá-la à chave ao sair para visitar seus parentes no Rio, nos fins de semana.

É maravilhoso caminhar pelos locais onde ele passeava e orava, visitar seu túmulo no Cemitério Franciscano e, se possível, ouvir o coro dos Canarinhos de Petrópolis aos domingos.

Finalmente, chegamos a um momento triste, quando em 11 de dezembro de 1931, Frei Luiz sofreu um grave atentado à bala. Foi um tiro disparado pelas costas, por Antônio Mário Hansen, que era freqüentador de sessões em que se faziam trabalhos para prejudicar pessoas.

Ele foi instigado por seus companheiros que odiavam Frei Luiz, pois ele condenava essas práticas. Era provavelmente um médium atuado por forças trevosas.

 




Antônio chegou ao convento cerca das 14 horas e esperou na portaria, nervoso, sentado em um banco com um embrulho no colo, coberto pelo chapéu.

Quando Frei Luiz saiu, como de costume, par fazer suas visitas aos fiéis, todos os que já os esperavam levantaram-se para receber sua bênção. Tirando então o chapéu que cobria o revólver, Antônio disparou por trás, atingindo Frei Luiz à altura do omoplata. Frei Luiz caiu, banhado em sangue; o malfeitor foi jogado ao chão e preso, só não sendo linchado graças aos rogos de Frei Luiz que pediu que o agressor fosse poupado.

Amparado por seus irmãos, Frei Luiz pediu a seu superior que lhe desse absolvição en-extremis, pois julgava que poderia morrer, e foi rapidamente levado ao Hospital Santa Tereza. Lá, mais uma vez se manifesta a proteção do Alto àqueles que procuram estar ligados à Deus e praticam o bem!

Dr. João Sampaio que o atendeu verificou a gravidade do ferimento: a bala havia se bipartido, penetrando pelo omoplata e atingindo o pulmão, na frente. O pedaço mais profundo poderia ter causado uma hemorragia fatal.

"Providencialmente", estava de passagem por Petrópolis, em visita ao hospital, o eminente cirurgião alemão Dr. Huber. Ele operou Frei Luiz extraindo o estilhaço mais superficial e optando por deixar o mais profundo, que poderia causar hemorragia se ele tentasse retirá-lo. Esse estilhaço mais profundo permaneceu em seu pulmão e o ferimento contribuiu para tornar mais precária a saúde de Frei Luiz, que tinha então 59 anos.

Note-se que Frei Luiz tinha sofrido de diversas enfermidades, trabalhava muito e era extremamente frugal. Conta-nos Américo M. de O. Castro, que o recebia habitualmente em sua casa, que " o que Frei Luiz intitulava de almoço era sombra de almoço e o que ele pomposamente classificava de jantar, era suspeita de refeição! A ultima refeição era apenas uma xícara de tamanho comum, com leite ligeiramente toldado de chá nada absolutamente nada de sólido". E assim ficava Frei Luiz até o dia seguinte, após celebrar a missa.

 




Frei Luiz regressou do hospital em 5 de janeiro de 1932, quando celebrou missa em ação de graças no altar de Santo Antônio, perante uma igreja lotada. Havia fiéis até do lado de fora!

Cerca de cinco anos mais tarde, combalido e sofrendo de outras enfermidades, iria Frei Luiz desencarnar. Ele teve pré-ciência de sua morte guardando porém o fato em segredo. Os que conviviam com ele notaram apenas que ele se tornara ainda mais carinhoso e meigo com todos, conta-nos Américo M. de O. Castro.

Um dia, porém, viajando no carro de Dna. Noêmia Werneck Machado, ela e seu motorista souberam do fato, quando Frei Luiz foi interpelado por uma senhora que, parando o carro, pedira a Frei Luiz que fosse a sua casa entronizar um quadro do Sagrado Coração de Jesus, no próximo dia 9 de abril.

Frei Luiz lhe respondeu que isso seria impossível; e logo após, com pena da senhora e já com o carro em movimento, acrescentou desculpando-se: "Neste dia serei eu enterrado!"

"Aproximava-se para o batalhador infatigável e indomável o fim da luta", nos diz Américo M. de O. Castro.

Mas, mesmo assim nos conta seu biógrafo amigo, "Frei Luiz visivelmente enfermo e patentemente esgotado, continuou até ser internado no Sanatório S. José, anexo ao hospital Santa Tereza, a exercer sua missão de pastor incansável, socorrendo suas ovelhas, sem atenção à hora, ao tempo ou ao lugar onde devia socorre-las."

De fato, Frei Luiz cada vez mais enfraquecido e acometido de uma quase paralisia dos membros inferiores, foi piorando cada vez mais. Sua locomoção foi se tornando cada vez mais difícil e lenta no convento, quando ainda não tinha sido levado para o hospital.

 




Certa noite, tendo conseguido levantar-se e sair de sua cela, caiu no corredor, não podendo mais erguer-se do chão frio. Resolveu ficar ali mesmo, pois não queria gritar e acordar seus irmãos. Foi quando um frade alto e forte, com o capuz escondendo o rosto, chegou não se sabe de onde, levantou-o com facilidade e o recolocou na cama.

Na manhã seguinte, quando Frei Luiz querendo agradecer, relatou o fato a seus irmãos, ninguém sequer sabia de nada!

Vejam quanto carinho e proteção ele recebeu de seus protetores, pois obviamente quem o ajudara tinha sido uma entidade materializada! Sua morte foi serena. Ele esteve todo tempo cercado por seus amigos religiosos e leigos entre os quais seu biógrafo Américo M. de Oliveira Castro, que o encontrou fraco mas perfeitamente lúcido, na véspera de seu desencarne, quando muito lhe agradeceu o carinho com que o tratava. E ainda lhe falou sobre a verdadeira vida, dando-lhe os últimos conselhos como seu diretor espiritual!

Enquanto conservou a consciência falou de amor e caridade. Parece ser essa sua última mensagem:

Nunca deixei de praticar a caridade, fosse para quem fosse, fosse do que fosse:

» A caridade da esmola material

» A caridade do socorro espiritual

» A caridade do pão

» A caridade da palavra

Será a minha glória e a minha oferenda a Jesus Menino!

Passava já das 22:30h quando o doente perguntou: "Que horas são? Que dia é amanhã?"

"Sexta-feira", responderam.

"Isso me agrada muito; quero celebrar em honra do Sagrado Coração de Jesus e de Cristo Crucificado". Foram suas últimas palavras.

 





Pouco depois, próximo às 23 horas do dia 8 de abril de 1937, Frei Luiz começou a respirar com dificuldade e finalmente seu bondoso coração deixou de bater...

No dia seguinte levaram seu corpo da enfermaria para o convento onde enormes romarias de fiéis vieram vê-lo pela última vez.

Seu enterro parou Petrópolis! Todos lamentavam a partida do amigo, do confessor, do conselheiro, em todas as classes sociais, pois todos os que precisaram, desde o paroquiano mais ilustre até o mais simples e pobre, tinham sido por ele assistidos e consolados!

Lojas ficaram fechadas com um simples aviso pendurado nas portas: "Fui ao enterro". Compareceram mais de 5.000 pessoas! Sua passagem foi noticiada em diversos jornais como "A Noite", a "Tribuna de Petrópolis" e outros com inúmeras fotografias e títulos como:

"A morte de um missionário".

"Foi uma perda irreparável a que vimos sofrer, pois somente Frei Luiz sabia fazer o que fazia em benefício do próximo".

"A memória de um sacerdote humilde perpetuada no bronze" e outros.

Logo após seu enterro o jornalista Gastão Lamounier, do jornal "A Noite", lançou a idéia de se fazer uma coleta pública para a construção de um busto em bronze de Frei Luiz. Em poucos dias a coleta estava completa e o trabalho foi entregue ao jovem escultor Anníbal Rodrigues Monteiro que fez um excelente trabalho. Ele foi também, anos depois, o autor do busto do Lar de Frei Luiz, cópia exata do primeiro, de Petrópolis, que está hoje do lado esquerdo, no jardim, na entrada do Convento do Sagrado Coração de Jesus.

Muitas graças recebidas pela intercessão de Frei Luiz foram publicados após sua morte em jornais idôneos.

E desde 1947 Frei Luiz vem orientando, incentivando e protegendo a obra do Lar de Frei Luiz.

E nós temos a graça e o privilégio de participar da obra que ele, em 1947, como foi dito, pediu ao Dr. Rocha Lima que criasse!

Fonte: www.lardefreiluiz.org.br

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