quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Os Místicos Corvos





Os corvos, mais do que qualquer outra ave, têm um lugar especial no imaginário das pessoas, resultado de uma convivência próxima que vem dos primórdios da humanidade.

Os corvos Corvus corax terão iniciado a sua relação com o Homem ainda em fases primitivas da evolução das sociedades humanas, tendo aprendido a seguir os nossos ancestrais, tal como seguiam os lobos, ursos e outros carnívoros para aproveitarem os restos de comida.

 Esta ave de tendência omnívora (generalista em termos alimentares), comporta-se frequentemente como uma ave necrófaga (alimenta-se de restos de animais encontrados mortos). Os corvos aproveitavam os alimentos caçados/colhidos pelos homens e, quando a oportunidade surgia, os próprios cadáveres humanos serviam-lhe de alimento.

 À medida que os homens ocuparam a Europa, a familiaridade com os corvos foi-se estabelecendo, e estas aves negras passaram a ter um significado especial para as pessoas no velho continente.





Talvez mais do que qualquer outra ave, o corvo tem um lugar especial no imaginário das pessoas. O corvo aparece no meio do Homo sapiens envolta em mistério, e adquiriu um elevado valor simbólico como agente terrestre de forças sobrenaturais. O corvo passou mais tarde a ser a ave favorita de fábulas, servindo como fulcro de muitas histórias de moral, ou como adorno de contos.

As pessoas viam alguns dos seus atributos na aparência e comportamentos dos corvos, e projetavam os seus próprios sentimentos nestas aves. O corvo em cada cultura ou situação flutuou de venerado a insultado. Foi profeta e mágico, tendo por vezes o poder de se transformar em pessoas.

A sua plumagem escura e voz sepulcral e o seu comportamento, levou frequentemente as pessoas a relacionarem o corvo com as forças do mal e com a morte. Por outro lado, a sua aparência forte e de domínio perante as outras aves, levou as pessoas a utilizarem o corvo como mascote de sucesso na guerra. Os seus ossos ou bicos, eram também utilizados como talismãs com poderes particulares.

 Algumas das primeiras alusões registradas aos corvos, são encontradas no Antigo Testamento, onde a ave era vista como amiga e companheira dos primeiros santos Cristãos. Na Grécia antiga, o corvo era a ave de Apolo. O Deus Odin tinha dois corvos, o Higin e o Munin (o pensamento e a memória), que todos os dias voavam pelo mundo reunindo informações que durante a noite segredavam a seu dono, pousados nos seus ombros. Odin era, aliás, conhecido como o Deus Corvo. Os Romanos já usavam os corvos em cativeiro, e usavam o nome Corvus e Corax para algum do seu material de guerra.

Na Idade Média, os corvos perderam o seu lugar como símbolo de guerra, mas continuaram associados a questões sobrenaturais, como profetas de acontecimentos que revelavam às mulheres, especialmente associados à morte. 






Nessa altura, o corvo era um habitante comum das cidades e vilas, aproveitando os restos de comida, chegando a ser protegido pela seu papel na reciclagem do lixo dos meios urbanizados. À medida que as cidades foram ficando mais limpas, os corvos começaram a perder as condições de habitat que necessitavam por falta de comida, e por as pessoas terem deixado de precisar dos seus serviços. 

Nos meios agrícolas o corvo manteve-se comum, onde a fonte de alimento principal tinha origem na morte dos animais. No meio rural era menos desejado que na cidade, tendo adquirido a fama de assassino de cordeiros, galinhas, coelhos e caça menor, e perdido a sua importância como necrófago do gado que morria no campo.

 Os corvos começaram a ser perseguidos, muitas vezes com preços à cabeça. Muitos corvos eram abatidos a tiro ou apanhados em armadilhas e a destruição dos ninhos era comum, mas a maior fraqueza dos corvos era o facto de serem facilmente mortos por envenenamento.

Durante o século XX, as populações de corvo recuperaram em muitas áreas a sua estima por parte das pessoas, sendo a sua perseguição ilegal. Estas aves são hoje consideradas como das mais espectaculares, inteligentes e interessantes, nunca deixando a sua história populacional de estar relacionada com as actividades e interesses humanos, sempre associados aos seus crescimentos e declínios.

Fonte: http://naturlink.sapo.pt

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