Os
12 nidanas, ou elos representam uma parte de um artifício pedagógico criado
pelo Buda para que seus discípulos aprofundassem a compreensão de origem
interdependente. Segundo a tradição, o Buda desenvolveu a iconografia
representando os 12 nidanas como sendo o arco exterior de uma roda de três aros
concêntricos, cada qual representando uma dimensão detalhada do ensinamento do
Buda sobre Causa e Efeito.
A roda é conhecida como a Roda da Vida. Contemplando
o seu simbolismo, o praticante pode vir a compreender as causas e os resultados
dos pensamentos, das motivações e das ações, renunciando às que conduzem ao
sofrimento e se voltando para as que conduzem ao despertar.
No
centro da roda giram três animais, cada um mordendo a cauda do precedente.
Representam as três emoções tóxicas primárias a partir das quais surge o
sofrimento: o galo representa a paixão; a cobra, a agressão, o porco a delusão.
O segundo círculo está dividido em seis segmentos que mostram os estados
mentais por que passam os seres, chamados os seis reinos.
Vão desde os reinos
gozosos da ignorância (e do orgulho NT) aos reinos da raiva e da guerra.
Psicologicamente falando, estes reinos são padrões enrustidos de pensamento e
emoções que experimentamos quando a mente é tomada de assalto por eles e se
perpetuam por si mesmos. O círculo externo é uma representação em seqüência dos
12 nidanas, ou 12 elos interdependentes, considerados a chave para a
compreensão do surgimento recorrente de causa e efeito no ciclo da existência.
Os
12 elos da cadeia operam em permanência e de forma interdependente durante
qualquer experiência, mas é através do seu aspecto seqüencial que o praticante
tem uma visão profunda do ciclo recorrente do "vir-a-ser" fenomênico
que ilustram. Vamos descrever os 12 elos para mais adiante examinar a
interdependência da sua natureza.
Ignorância
(avidya)
O
primeiro elo se chama avidya, ou ignorância, e se refere à ignorância
primordial profundamente enrustida que conduz às nossas confusas percepções de
mundo. Está representada por uma avó cega e trôpega, com um bastão na mão,
descendo uma escarpa pedregosa. Está cega para os padrões recorrentes de
comportamento, mas também para filhos e netos; contudo, trôpega, segue em
frente. Sua cegueira não é necessariamente passiva, é a recusa obstinada de
olhar para a dificuldade em ter de preservar a noção fixa num eu sólido e
contínuo e o apego que tem à noção deste ego. Na visão búdica, este tipo de
ignorância é o oposto da sabedoria.
Formações
(samskara)
É
a tendência da ignorância de se aglutinar em atividade e resultado, também bem
enrustida em nós! Pode ser entendida como a velocidade dos padrões recorrentes.
Está representada pelo oleiro na sua roda. O que se inicia como um bocado de
barro (ignorância) está se fazendo e se refazendo constantemente sempre
retomando formas. A inércia da roda do oleiro leva o barro a ser transformado
em vaso, assim como as formações estão continuamente transformando nossa
ignorância em forma.
Os
elos 1 e 2 são fenômenos passados, que preparam a cena para a atividade dos
demais nidanas. São os precursores dos nossos sofrimentos neuróticos e operam
no pano de fundo do nosso entorno, além da nossa conscientização imediata.
Consciência
(vijnana)
Este
elo começa a mostrar a forma específica criada pela ignorância e pela
velocidade. Está representado por um macaco ágil que sobe uma trepadeira para
colher um fruto suculento. A consciência é o aspecto reflexivo da experiência
que reconhece e cria o sentido de continuidade. Pode ser observada como a mente
que se empenha numa exploração auto referente e que atarefada trata de reunir
os componentes do que denominamos ego.
Nome
e Forma (nama-rupa)
Confirmam
a identidade pessoal com o acréscimo do nome e da forma. Iconograficamente
falando, um barco com vários passageiros, conduzidos por um barqueiro. Os
passageiros são emotivos e tagarelas, características da experiência humana
transportada pela consciência. Associados à consciência completam o agregado
que chamamos o indivíduo.
Seis
Sentidos (sad-ayatana)
Os
seis sentidos, representados por uma casa com seis janelas. Agora que os
rudimentos da identidade individual estão presentes, são criados as avenidas de
relacionamento com o "outro" na forma dos cinco sentidos, aos que se
somará o skanda mental. O ego se debruça sobre o seu mundo através da percepção
numa tentativa de confirmar a sua existência. Neste ponto a percepção ainda não
está agindo; mas os tentáculos já se estendem para estabelecer a relação. O
próximo elo confirma o estabelecimento da percepção.
O
"outro" inclui qualquer fenômeno experimentado e conhecido em
perpetuidade. O contacto é ilustrado por um casal que se abraça. Aqui as
faculdades sensoriais e a mente estabelecem contacto com os objetos e dá início
à relação.
Sensação
(vedana)
Assinala
a resposta da relação que ficou estabelecida. Aqui a experiência do prazer ou
da dor surge como uma centelha inicial. Representada como uma seta atingindo o
olho, vemos como é forte o sentimento básico de qualquer sensação. Sentimos tão
intensamente todos os aspectos da nossa relação com o mundo que tanto a
confirmação quanto a falta de confirmação nos afeta. Esta intensidade nos faz
bater em retirada e retomamos os nossos padrões recorrentes e dando azo ao
surgimento de situações dolorosas.
Segundo
o Buda, dos elos 3 a 7 representam a solidificação do ego e suas tentativas de
estabelecer novos territórios. Acontecem de forma tão rápida e interdependente
que se torna difícil observar suas funções isoladas e, juntas, constroem o
cenário para a etapa seguinte dos elos.
Desejo
(trsna)
Representado
como um gordo se empanturrando com um refresco de leite e mel. Demonstra
descaso, a tendência de agir sob o efeito das sensações expostas no elo
precedente mesmo se a ação é, em última análise, destrutiva. Do ponto de vista
budista, é considerado destrutivo reagir por impulso às nossas exigências
autocentradas. Apesar disto, devoramos o refresco o que faz lembrar os hábitos
da avó do primeiro elo.
Apego
(upadana)
Expande
a impulsividade do elo número oito numa forte emoção, e trata de um estado de
desejo intensificado. Aqui o homem sobe a árvore carregada de fruta, come com
voracidade e ainda colhe mais frutos para levar. O refresco foi apenas um tira
gosto. A emoção atingiu o seu ponto alto e a indulgência é plena e visível. O
apego não é apenas sensual, também é intelectual e estético; está enraizado no
egocentrismo.
Existência
(bhava)
Uma
impulsividade crescente nos transporta para o nidana da existência. Aqui a
emoção se expressa em ação, fazendo com que nossa tendência para a cegueira
seja convertida em forma. Está representada como uma mulher grávida prestes a
dar a luz, expressão do carma plenamente amaduro, conseqüência concreta e
inevitável do desejo e do apego que, reforçando nossas tendências pretéritas,
leva à fixação do ego e a perpetuação da dor.
11
e 12. Nascimento, Velhice e Morte (jati jaramarana)
Os
dois últimos nidanas resumem toda e dolorosa existência autocentrada. Onze, o
nascimento está representado por uma mulher dando à luz e doze, velhice e
morte. Nossas emoções e atividades presentes criam novas situações que
amadurecem, reproduzem e morrem. A morte provoca grande incerteza e pânico
diante da possibilidade de se perder o sentido de solidez que temos da
existência. Este processo se refere ao ponto mais elevado e à morte de um
estado emocional específico, como a luxúria, a cobiça e a raiva; o sentimento
que nos proporciona uma relação pessoal ou a sustentação que nos proporciona
qualquer meio de vida; a morte temporária de qualquer processo mental; etc.
Qualquer que seja a magnitude da experiência, um certo nível de pânico e de
medo caracteriza a nossa relação com estas mortes e a morte.
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