Quando Jesus disse: “consummatum est” e
expirou, José de Arimatéia teve a “audácia de ir a Pilatos” (Mc 15, 43)
pedir o corpo de Jesus para proceder ao sepultamento conforme o costume.
Os Evangelhos nos contam que, uma vez
concedida a licença, Jesus foi envolto num lençol e depositado num
sepulcro novo. São Mateus fala de um pano limpo de linho e São Lucas de
um lençol de linho.
O que conhecemos hoje como Sudário é um
lençol de linho, de tecido firme e forte, de cor sépia, e de grandes
dimensões ( 4,36m de comprimento por 1,10m de largura) , que traz
milagrosamente estampado, de frente e de costas em tamanho natural, a
figura de um homem de barba com idade calculada entre 30 e 35 anos, de
aproximadamente 1,80m de altura e pesando mais ou menos 80 quilos, que
foi torturado, flagelado e crucificado. Conserva-se há mais de quatro
séculos na cidade italiana de Turim.
Um lenço com o qual se enxugava o suor
do rosto designava-se: sudário. Depois, com o tempo essa terminologia
passou a ser usada para designar o lençol ou mortalha utilizada para
envolver cadáveres nos sepultamentos. Com o mesmo significado, temos em
grego a palavra “sidon” , daí vem sindonologia que quer dizer: estudo do
sudário.
Desde o momento em que José de Arimatéia
saiu do Pretório, às pressas, para adquirir o lençol no mercado de
Jerusalém, iniciou-se uma história que atravessaria os séculos. Em
nossos dias ela desperta interesse tão ou mais significativos que nos
primeiros séculos, sobretudo por causa das incógnitas que apresenta e
que nem a ciência moderna consegue desvendar inteiramente.
Foi um longo período, marcado por
aparecimentos e desaparecimentos que vai desde o ano 30 de nossa era até
1356, quando é entregue por Godofredo de Charny I aos cônegos de Lirey,
na França. A partir daí, a história do Santo Sudário é bem conhecida e
esta devidamente documentada.
Em 1356, Godofredo de Charny I –
cavaleiro cruzado – entrega aos cônegos de Lirey o Sudário, que estava
em seu poder há pelo menos três anos.
Difícil saber, entretanto, como o
Sudário foi parar na França porque Godofredo jamais revelou como entrou
na posse dele. Acreditam alguns historiadores que tenha sido na época em
que Constantinopla caiu nas mãos dos bizantinos.
Em 1390, duas bulas tratando do Sudário foram editadas pelo antipapa de Avignon, Clemente VII.
Não se ouviu falar do Sudário até 1418,
quando Humberto, Conde de La Roche, que se casara com Margarida de
Charny, recebeu o Santo Sudário dos cônegos de Lirey, para guardá-lo por
um certo período em que ocorriam guerras e desordens. O Conde de La
Roche, entretanto, veio a falecer sem ter restituído a relíquia aos
cônegos de Lirey.
Em 8 de maio de 1443, Margarida de
Charny, neta de Godofredo de Charny, foi intimada em juízo a devolver o
Sudário aos cônegos de Lirey, quando alegou “ser ele de sua propriedade
por direito de conquista feita em guerra por seu avô”.
Em 1453, no dia 22 de março, Margarida entrega o Sudário à mulher do duque Ludovico de Sabóia, Ana de Lusignano.
Em 1457, no dia 30 de maio, Margarida foi apenada com excomunhão pelo tribunal eclesiástico de Besançon.
Em 7 de outubro de 1459, Margarida de Charny faleceu.
Em 1464, no dia 6 de fevereiro, o duque
Ludovico de Sabóia, (que estava na posse do lençol), nega-se a atender
um pedido de restituição da relíquia, feito pelos cônegos de Lirey, que
se consideravam os legítimos proprietários do lençol.
Em 1502, o Sudário foi levado à Sacra Capela do castelo, em Chambéry, especialmente construída para ele.
Em 1506, o Papa Júlio II aprova a
Liturgia do Santo Sudário, com festa anual no dia 4 de maio. Desde 1453
até 1506 o Sudário esteve na posse da família Sabóia, em Chambéry, como
objeto privado.
Um violento incêndio, ocorrido na noite
de 3 para 4 de dezembro de 1532 na sacristia da Sacra Capela, atingiu
seriamente o Sudário lá guardado dentro de uma urna de prata. O cônego
Lambert, ajudado por dois franciscanos e um ferreiro, conseguiu salvá-lo
lançando grande quantidade de água sobre a urna, já incandescente e
começando a fundir-se. Felizmente os danos, embora irreversíveis, não
prejudicaram totalmente as imagens impressas. Como o lençol estava
dobrado dentro da urna, as bordas das dobras, que estavam em contato com
uma lateral incandescente, ficaram chamuscadas. Algumas gotas da prata
fundida também o perfuraram e a água, utilizada para debelar o incêndio,
produziu manchas em forma de losango, tanto na imagem frontal, como na
dorsal.
Em 1534, no período de 15 de abril a 2
de maio, as irmãs Peronette Rosset, Marie de Barre e Collete Rochete,
aplicaram remendos triangulares nos furos, costurando-os pelo avesso do
lençol, porque ali não há nenhuma imagem.
Em 1535, por motivo de guerra, o Sudário
foi levado para outras cidades da Itália e da França. Saiu de Chambéry,
passou por Turim, Vercelli, Milão, Nice, novamente Vercelli.
Em 1561, a relíquia retornou a Chambéry. O traslado para Turim deu-se por um ato de piedade do então Cardeal Carlos Borromeu.
Em 1578, no dia 8 de outubro, o Sudário
foi trasladado para a Catedral de Turim. Nesse ano, o Cardeal de Milão,
hoje São Carlos Borromeu, fez um voto de ir a pé, de Milão a Chambéry,
em peregrinação para adorar o Sudário, caso a epidemia de peste
desaparecesse de sua cidade. Alcançada a graça, o Cardeal iniciou a
caminhada. Para poupá-lo da penosa viagem através dos Alpes, o duque
Emanuel Filiberto de Sabóia mandou levar o Sudário até Turim, metade do
caminho entre Milão e Chambéry. Desde então, permanece o Santo Sudário
em Turim até nossos dias.
FONTE: Gaudim Press
santuariodocarmo.org.br
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