No
dia 1º de novembro de 1868, na reunião da Sociedade Parisiense de
Estudos Espíritas, Allan Kardec utilizou parte do seu discurso de
abertura para falar sobre caridade. Suas palavras foram registradas na
Revista Espírita de dezembro do mesmo ano. Vejamos:
"A caridade é a
alma do Espiritismo: ela resume todos os deveres do homem para consigo
mesmo e para com os seus semelhantes; é porque pode se dizer que não há
verdadeiro Espírita sem caridade.
Mas a caridade é ainda uma dessas
palavras de sentido múltiplo, da qual é necessário bem compreender toda a
importância; e se os Espíritos não cessam de pregá-la e de defini-la, é
que, provavelmente, reconhecem que isto é ainda necessário.
O campo
da caridade é muito vasto; ele compreende duas grandes divisões que, por
falta de termos especiais, podem designar-se pelas palavras: Caridade
beneficente e caridade benevolente. Compreende-se facilmente a primeira,
que é naturalmente proporcional aos recursos materiais dos quais se
dispõe; mas a segunda está ao alcance de todo o mundo, do mais pobre
como do mais rico. Se a beneficência é forçosamente limitada, nenhuma
outra senão a vontade pode pôr limites à benevolência.
O que é
preciso, pois, para praticar a caridade benevolente? Amar seu próximo
como a si mesmo: ora, amando-se ao seu próximo quanto a si mesmo, se o
amará muito; se agirá para com outrem como se gosta que os outros ajam
para conosco, não se desejará nem se fará mal a ninguém, porque não
gostaríamos que no-lo fizessem.
Amar seu próximo é, pois, abjurar
todo sentimento de ódio, de animosidade, de rancor, de inveja, de ciúme,
de vingança, em uma palavra, todo desejo e todo pensamento de
prejudicar; é perdoar os seus inimigos e restituir o bem onde haja o
mal; é ser indulgente para com as imperfeições de seus semelhantes e não
procurar a palha no olho de seu vizinho, então que não se vê a trave
que está no seu; é ocultar ou desculpar as faltas de outrem, em lugar de
se comprazer em pô-las em relevo pelo espírito de denegrir; é ainda não
se fazer valer às custas dos outros; de não procurar esmagar ninguém
sob o peso de sua superioridade; de não desprezar ninguém por orgulho.
Eis a verdadeira caridade benevolente, a caridade prática, sem a qual a
caridade é uma palavra vã; é caridade do verdadeiro espírita como do
verdadeiro cristão; aquela sem a qual aquele que diz: fora da caridade
não há salvação, pronuncia a sua própria condenação, neste mundo tão bem
quanto no outro".
Fonte:osmossoros.com.br
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