'Os animais têm alma e podem voltar à Terra como humanos'
Fábio Linjardi
linjardi@odiariomar inga.com. br
Walter Farnandes
Irvênia Prada, professora e orientadora do curso de pós-graduação em Anatomia dos Animais Domésticos e Silvestres da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP .
Os animais têm alma e podem, em uma outra vida, voltar à Terra como humanos. Essa afirmação é da veterinária Irvênia Prada, 69 anos, professora e orientadora do curso de pós-graduação em Anatomia dos Animais Domésticos e Silvestres da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (USP).
A teoria de Irvênia sobre a alma dos animais, no entanto, está relacionada aos estudos em sua religião, o espiritismo. Autora dos livros "A Alma dos Animais" (Editora Mantiqueira) e "A Questão Espiritual dos Animais" (Editora Folha Espírita), Irvênia participou na noite de quinta-feira (24) de uma conferência na Associação Espírita de Maringá (Amem), onde afirmou que os animais têm vida após a morte.
A professora acrescenta que é possível que os homens e seus animais de estimação voltem a se encontrar "do outro lado". Mas, se os animais um dia podem virar gente, seria possível um humano voltar à terra como um cachorro ou gato? Irvênia diz que não, porque dentro do conceito de evolução dos espíritos, defendido pela doutrina espírita, não há retrocesso.
A veterinária diz que os animais que viram lata de lixo hoje podem sofrer menos na próxima vida. E que os sofrimentos dos animais abandonados nas ruas não necessariamente representam o pagamento de pecados de vidas anteriores, mas parte de um aprendizado. Leia a seguir os principais trechos da entrevista.
IRVÊNIA PRADA - Na vivência da minha profissão de veterinária, comecei a me perguntar por que os animais sofrem. Na doutrina espírita, a gente fala que quando as pessoas sofrem elas estão amadurecendo.
Sempre as pessoas relatam que saem amadurecidas e mais espiritualizadas após uma doença ou um grande trauma. E eu via na minha profissão os animais terem câncer, epilepsia, enfim, toda sorte de sofrimento que os homens também têm. Então, resolvi estudar dentro do espiritismo a explicação para o sofrimento dos animais e comecei a entender que eles, como os seres humanos, também estão evoluindo. E nesse processo evolutivo de amadurecimento do espírito, a dor e o sofrimento são subprodutos da evolução.
Qual a dívida de um cachorro para ele passar a vida revirando lixo, enquanto outro só come ração importada?
São todos espíritos em evolução. Como eles também reencarnam e vão ter outras oportunidades, nem sempre eles vão nascer como animais que serão maltratados ou bem cuidados. Os próprios espíritos que cuidam da reencarnação dos animais orientam os animais que sofreram em uma vida para que tenham uma família mais aconchegante. Enfim, em toda essa trajetória evolutiva nós estamos aprendendo, inexoravelmente.
Emmanuel, que é um espírito que nos ajuda muito com suas obras, diz que na escola da vida, onde estamos todos matriculados, as aflições nos impingem esse esforço que chamamos de sofrimento. Ele também diz que nós nem sempre estamos sofrendo para resgatarmos dívidas do passado, mas sim para aprender.
É possível que uma pessoa hoje tenha sido um bicho no passado?
É possível, sim. Porque o chamado princípio inteligente, que é o espírito criado simples e ignorante, vai estar estagiando por milhares de processos reencarnatórios para ir aprendendo. Diz Emmanuel, esse mesmo autor que acabei de citar, que o animal caminha para a condição de homem, tanto quanto o homem caminha para a condição da plenitude. É um processo evolutivo a que todos tendemos.
A senhora acredita que possamos encontrar nosso animal de estimação "do outro lado", quando morrermos?
Sim. No meu livro "A questão espiritual dos animais", que trata desse assunto, tem um caso que consta do livro "Testemunhos de Chico Xavier", da autora Suely Caldas Schubert. Ela conta que Chico Xavier escreveu uma carta a Vantoil de Freitas, então presidente da Federação Espírita Brasileira na década de 50. Chico dizia na carta que seu irmão, José, ao desencarnar havia recomendado que ele cuidasse muito bem de seu cachorro, o Lorde. Chico conta que Lorde viveu mais alguns anos, ficou doente e desencarnou. Ele diz que durante o desencarne do cachorro, viu José vir acolher nos braços o espírito de Lorde. Deve ter sido uma cena lindíssima. E ele complementa contando que nos meses que se seguiram, quando José lhe vinha na presença em espírito, estava sempre acompanhado da presença do Lorde aos seus pés. Então, é possível sim que espíritos humanos e espíritos dos animais se reencontrem após o desencarne.
Nesse conceito de que os animais podem virar humanos em outra vida, quem cuida dos bichos também estaria quitando alguns de seus pecados com o próximo?
Dentro da conceituação espírita não existe essa expressão "pecado".
Nós, como seres em evolução, nem sempre nos conduzimos de maneira adequada em determinadas situações. Então, pode ser que, em outra encarnação, tenhamos a oportunidade de rever uma situação semelhante, para agir de uma maneira adequada. Tudo é um aprendizado e nós falamos assim: estamos resgatando débitos do passado. Mas ainda acho que é uma expressão um pouco depreciativa, creio que hoje estamos aprendendo a atuar e a agir de uma forma mais adequada que em situações anteriores.
Acredita-se ser possível que um homem volte em outra vida como animal?
Não. Na questão 612 do Livro dos Espíritos, que é o livro básico da codificação espírita, Allan Kardec faz a mesma pergunta aos espíritos. E a resposta é que não. Isso caracterizaria a doutrina da etempsicose, presente em algumas culturas, como no antigo Egito.
Nenhum espírito retrocede, o rio não remonta à fonte. Então, espíritos humanos jamais encarnariam em corpos de animais. É sempre uma caminhada para frente.
Dentro do conceito de evolução dos espíritos, defendido pela doutrina spírita, onde a Terra não seria o ponto mais alto na escalada do epíritos, é possível que em outras encarnações, ao partir para mundos ais evoluídos, o homem nasça como animal de estimação de seres
superiores?
Não sei dizer se essa situação pode se caracterizar. A gente sabe que não é só a Terra que é habitada, existem muitos planetas por aí.
Aliás, quando a gente fala em elo perdido na teoria darwiniana, os espíritos dizem que é muito provável que esse elo esteja encarnado em outro planeta. Seria um lugar de período transitório, entre a Terra e outro planeta mais atrasado. Mas essa situação, para adiante da Terra, não sei dizer como deveria ficar. Só sei que há outros mundos habitados por espíritos mais evoluídos. No Livro dos Espíritos tem uma classificação dos espíritos e dos mundos. A última classe seria dos espíritos puros, que são aqueles que já tem toda sabedoria possível e habitam planetas muito mais evoluídos que a Terra. Nosso planeta é um dos mais atrasados que existem nessa ordem evolutiva. Existe o primeiro nível, que é dos planetas primitivos, como a Terra quando estava na época da pedra lascada. O nosso estágio atual é de provas e expiações, onde ainda a maldade, a violência e a doença prevalecem. O próximo estágio, ao qual a Terra logo será promovida, é o de planeta de regeneração, onde o esforço para melhorar será maior que o que fazemos agora.
Essa mudança de estágio seria gradativa ou marcada por eventos bruscos?
Os espíritos falam em desencarnes coletivos, que já estão acontecendo ao longo das décadas. Quando a população do planeta vai evoluindo e começam a aumentar os extremos - no planeta começa a ficar gente muito ruim e gente muito boa -, a convivência fica muito difícil. A tendência é que esse pessoal da pesada, que ainda não evoluiu, seja transferido para outro planeta que esteja como a Terra é agora. E que os bons fiquem na Terra, que será promovida. Vamos torcer para que a gente esteja nessa parte que vai ficar aqui.
Como é a aceitação do público quando a senhora fala sobre a existência de alma nos animais?
As pessoas aceitam muito bem. Alguns espíritas mais antigos dizem ter dificuldade em acreditar que o homem tenha passado pela chamada fieira animal, que é a expressão que têm nos livros espíritas, mas essa é a interpretação de cada um. A doutrina espírita é muito aberta e não nos obriga a nada. Kardec sempre deixou as coisas muito abertas para que pudéssemos entender no nível de nosso conhecimento. Jesus mesmo falava em parábolas com essa intenção, de que cada um entendesse à sua maneira, de acordo com seu patamar evolutivo.
Normalmente, explora-se em filmes que os animais teriam capacidade de ver espíritos. Isso ocorre?
É sabido que os animais vêem, ouvem e sentem a aproximação de espíritos. Tem aquele caso bíblico da mula de Balaão, em que o anjo se apresentou primeiro à montaria e depois ao próprio Balaão. Eu, que sou nascida no sítio, ouvia muitos casos que tem cavalo que não passa por determinados lugares. Uma possibilidade nesses casos é que seja algum lugar em que eles vejam espíritos ou alguma coisa que não convenha.
Fonte:abrigodosbichos.com.br
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