A mediunidade é um presente contínuo. Não existe esse estado de
“estar” ou “não estar” mediunizado. Por muito tempo se imaginou o
processo mediúnico como algo momentâneo, acidental. Isso se deve ao
autoentendimento que se instalou nas casas espíritas, a partir da década
de 1940, conforme nos referimos no artigo anterior. Com efeito, uma
deferência especial passou a ser dispensada aos chamados médiuns, o que
gerou graves distorções no entendimento dos espíritas, como a
mitificação do médium, a sacralização da mediunidade, a esoterização do
processo mediúnico.
É
preciso, urgentemente, reconceituar mediunidade. Como dissemos, essa
faculdade do espírito é um presente contínuo, ou seja, ela está sempre
presente e ativa em nosso cotidiano. Pelo processo reencarnatório, o
espírito submete-se às limitações da matéria, parte de suas faculdades
fica embotada, sua percepção quase se restringe exclusivamente aos
sentidos do corpo físico. Mas, mesmo limitado pela tridimensionalidade
da matéria e sendo parte, o espírito não tem interrompida sua interação
com o todo e a totalidade. Mantém o vínculo com todo o acontecimental
imediato e mediato da sua existência, não se limitando ao processo
espaço-temporal. Portanto, transcende permanentemente. Sentimos e
pressentimos acontecimentos distantes no tempo e no espaço, como as
intuições e premonições. A isso denominamos de apercepção. Esse estado
de interação constante permeia todos os seres vivos.
Essa constatação
pode explicar como os animais, por exemplo, têm percepções semelhantes.
Quem tem animais domésticos já deve ter percebido como eles “sabem”
quando o dono está chegando em casa, mesmo que isso leve alguns minutos.
É como se recebessem um aviso antecipado da chegada da pessoa. Mas, na
realidade é como se estivessem em contato contínuo com seus donos, sem
sair de seu lado, mesmo que espacialmente distantes. Pessoas que
sofreram as agruras da 2ª Guerra Mundial na Alemanha, perceberam que
quando haveria bombardeio em suas cidades, os pássaros retiravam-se do
ambiente com horas de antecedência. O mais surpreendente é que essa
retirada dava-se mesmo antes dos aviões bombardeiros decolarem da
Inglaterra. Nem os observadores avançados, nem os radares, haviam
detectado qualquer movimento, mas os pássaros “sabiam”, por assim dizer,
e buscavam refúgios seguros. Há relatos de animais extraviados a
centenas de quilômetros das suas antigas casas, mas que retornaram dias
após o sumiço, como se tivessem um mapa mental do trajeto.
Na
matéria, as coisas parecem separadas porque cada objeto se encerra num
espaço estruturado finito, como espaços contidos e, pela forma como
aprendemos a ver e interpretar a realidade, achamos que nada há entre
eles, senão espaços vazios. Ora, depois de Einstein, nada é vazio. A
descoberta da curvatura do espaço mostrou que nem mesmo a luz escapa das
distorções espaciais provocadas pela gravidade dos astros. Os físicos
têm se debruçado sobre o que denominam de “emaranhamento quântico”, que
permite que duas partículas que interagiram antes possam continuar
interagindo de forma instantânea, independentemente da distância que se
encontram. Como nada se desloca mais rápido do que a luz em nosso
Universo, essa interação acontece por um entrelaçamento atemporal e
transespacial. Será que podemos compreender o processo mediúnico por
esses referenciais? Afinal, somos capazes de antever acontecimentos no
tempo e no espaço, portanto, apercepcionais, porque atemporais e
transespaciais.
Apesar do ceticismo de grande
parte dos cientistas, a ciência tem muito a contribuir para o nosso
autoconhecimento, no que se refere à natureza do espírito.
fonte:serespirita.com.br
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