A história da Índia começa por volta de 3.000 a.C., com o surgimento das civilizações de Harrapa e Mohenjo Daro, no vale do rio Indus. Cerca de mil anos depois, os povos arianos do Cáucaso passaram a dominar o vale dos Indus e seus habitantes, os drávidas. Na mesma época, começaram a se estabelecer os princípios da Religião Hindú; foram escritos os hinos sagrados (Rig Veda, Yajur Veda, Sama Veda) e os tratados filosóficos (Upanishads) do hinduísmo.
Por volta de
1.000 a.C., os povos arianos passaram a ocupar o vale do rio Ganges e sociedade foi
dividida em castas. Cada casta (em sânscrito, varna) era uma espécie de classe social:
kshatriyas (guerreiros): nobres, guerreiros, autoridades;
vaishyas (provedores): mercadores, artesãos, agricultores;
shudras (servos): trabalhadores braçais.
Abaixo desse
sistema estavam os intocáveis (sânsc. pahria), considerados tão inferiores que não
eram dignos de uma casta. Totalmente discriminados, eles viviam cercados pela fome,
miséria, doenças e sofrimento.
Essa ordem
social era tida como sancionada pelo próprio Brahman (Absoluto) e era totalmente
impossível a um indivíduo passar de um grupo para outro. Os brâmanes compunham a classe
mais privilegiada e só por intermédio deles era possível obter-se uma vida feliz. Além
da crença nos deuses, eles ensinavam a doutrina das vidas sucessivas a que todos os seres
estavam sujeitos, sem exceção. Segundo essa crença, todo ser possuiria uma alma, ou
Atman, que se reencarnaria sucessivamente nas mais diversas formas, segundo a natureza dos
atos praticados nas vidas anteriores — o karma. Essa cadeia de reencarnações —
samsara — era conhecida como um mal a que o indivíduo devia escapar, recorrendo à
fé nos deuses e nos brâmanes, seus representantes, e à prática de exercícios
ascéticos e de ioga.
Por volta do
século VI a.C., a Índia entra num período de progresso e desenvolvimento material. As
cidades já existentes começaram a se juntar em reinos cada vez maiores, caminhando a
passos largos para a unificação. O progresso do comércio e da indústria, bem como o
fortalecimento do estado monárquico, criaram uma atmosfera livre e aberta às mais amplas
discussões, surgindo uma série de pensadores que criticaram amplamente a ortodoxia
bramânica. Entre esses pensadores, o que maior influência exerceu foi precisamente
Siddharta Gautama, também conhecido como Buddha, palavra que quer dizer Sábio, Iluminado
ou Desperto, "Aquele que Sabe"
O sistema de
castas também vigorava em Shakya, um reino que se localizava entre a Índia e o Nepal, ao
sul das montanhas do Himalaya. Por volta dos séculos VI-V a.C., Shakya era governado pelo
rajá Shuddhodhana Gautama e sua esposa, Maya-devi Gautami, membros da casta guerreira.
Embora quisessem ter filhos, eles não conseguiram tê-los e já tinham perdido as
esperanças de conseguir um herdeiro.
Certa vez,
Maya sonhou com um belo elefante branco. Sete sábios interpretaram o sonho como o
prenúncio do nascimento de um filho prodigioso: ele seria um imperador universal (sânsc.
chakravartin) se vivesse no palácio de seu pai, ou um asceta (sânsc. bhikshu) se
renunciasse ao trono. Shuddhodhana começou a se preocupar; ele queria um grande imperador
para sucedê-lo e não um asceta. Naquela
época não era estranho que jovens, atormentados pela perversão que os cercava,
cessassem as suas atividades, se despedissem da família e dos amigos e abandonassem a
vida mundana. Iam viver nos bosques, possuindo apenas uma tigela de madeira com a qual, de
tempos em tempos, mendigavam um pouco de comida. Pensavam que o auto-sacrifício e a
severa disciplina corporal lhes proporcionaria um momento de sublime percepção, durante
o qual, subitamente, lhes seria revelado o segredo do Universo. |
|
No
fim de uma gestação de 10 meses, Maya seguiu a tradição indiana e viajou para a casa
de seus pais, a fim de ter o seu filho lá. Os pais dela moravam em Kapilavastu, capital
de Shakya. O filho de Maya nasceu perto daquela cidade, nos jardins de Lumbini, no 8º dia
do 4º mês lunar de 563 a.C.
Segundo as histórias tradicionais, o menino deu sete passos na direção de cada
ponto cardeal e flores desabrocharam nos locais pisados. Algumas tradições dizem que ele
apontou para o céu com a mão direita e para a terra com a mão esquerda,
dizendo:"Entre o céu e a terra, sou o venerável!" Segundo outras tradições,
ele teria dito: "Sou o líder do mundo, sou o guia do mundo. Este é o meu último
nascimento." Naquele momento caiu uma chuva de néctar doce e seres celestiais
apareceram para proclamando o nascimento do menino.
Por causa desses acontecimentos, o recém-nascido recebeu o nome de Sarvarthasiddha Gautama (aquele da família Gautama que realiza todas as suas metas), logo simplificado para Siddharta Gautama (páli Siddhatta Gotama, aquele da família Gautama que realiza suas metas). Um eremita chamado Asita foi vê-lo e descobriu vários sinais no pé do menino, confirmando as previsões.
Maya faleceu
uma semana após o parto e Siddharta passou a ser cuidado por sua tia, Prajapati Gautami.
Após vencer um torneio de artes marciais, aos 16 anos, Siddharta casou-se com Yashodhara,
filha do rajá Dandapani. Posteriormente, casou-se também com Gopa e Mrigaja, mas foi com
Yashodhara que ele teve seu filho, Rahula. Para fazer com que seu filho se entretesse, o
rei Shoddhodhana deu três palácios a Siddharta: um para o verão, um para o inverno e
outro para a época das monções.
|
|
Mesmo
assim, com a idade de 29, Siddharta convenceu o seu pai de que já era o momento de
conhecer o mundo;
Siddharta
nunca tinha saído dos palácios. Shuddhodhana tentou evitar, mas seu filho acabou
encontrando um velho, um doente, um morto e um asceta.
Revoltado
com todo aquele sofrimento, Siddharta discutiu com seu pai e abandonou o palácio.
O luar de um
branco azulado iluminava o quarto. Siddharta andou na ponta dos pés silenciosamente até
a cama onde sua esposa, Yashodhara, dormia tranqüilamente com seu filho Rahula, coberto
com um cachenê. Rahula sorriu como se estivesse em sonhos felizes.
"Como ele é
amável e bonito!" Siddharta estendeu os braços para abraçar o filho, mas logo
recuou para afastar tais pensamentos.
Apesar do coração
completo de afeição pela esposa e pelo filho, ele não hesitou em deixar a casa para
buscar o caminho da prática espiritual.
O cocheiro do estábulo, Chandaka, ajudou Siddharta
a fugir para a floresta, mas não gostou da idéia. Ficou preocupado e, apesar das
insistências, não conseguiu convencer o príncipe a retornar ao palácio. Siddharta
queria descobrir uma maneira de eliminar os sofrimentos. Como sua vida luxuosa não
poderia livrá-lo da doença, velhice e morte, Siddharta trocou a vida palaciana pela vida
ascética.
"Enquanto as pessoas não são afetadas pela doença, velhice ou morte, elas não pensam sobre essas coisas. Eu preciso agora encontrar o caminho para acabar com a fonte desse sofrimento. Todos aqueles que nascem nesse mundo devem experimentar o pesar da separação. Estou deixando minha casa para descobrir o caminho pelo qual o ser humano pode escapar desse sofrimento."
Como símbolo de sua renúncia,
Siddharta cortou seu longos cabelos com uma espada. Algum tempo depois, ele encontrou
Alara Kalama e Udraka Ramaputra, que lhe ensinaram avançadas técnicas de meditação.
Porém, eles não conseguiram responder à pergunta do ex-príncipe: como extinguir o
sofrimento?
"Ó ilustre monge, eu gostaria que alguém como
você governasse este país. Se você aceitar, oferecerei criados, cavalos, carruagens,
tudo o que você desejar", disse o rei.O ex-príncipe passou a praticar ascetismo na floresta de Uruvela, no reino de Magadha. O próprio Bimbisara, rei de Magadha, foi visitar o jovem Siddharta.
Por seis anos, Siddharta foi
acompanhado por outros cinco ascetas, ex-discípulos de Udraka Ramaputra. Quando percebeu
que o ascetismo não traria os resultados que procurava, Siddharta abandonou este estilo
de vida. Subitamente, ele compreendeu que a vida palaciana e a vida ascética são dois
extremos; o ideal é seguir um caminho intermediário, o caminho do meio (sânsc.madhyama-pratipad), o caminho do despertar.
Fonte:viacapella.com.br
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário