Os
estudos de H.P.B., enquanto esteve no ashram do Mestre, no Tibet,
pertencem ao treinamento esotérico, preparando-a para o futuro papel,
quando ela voltasse ao mundo exterior. Seu treinamento oculto, a
preparação dos seus diversos corpos para atuar como transmissores de
comunicações dos Mahatmas para o mundo muito ocupado dos homens, levou
anos.
Os fenômenos que ela produziu e as experiências pelas quais passou
enquanto esteve na Rússia entre 1859 e 1863 são prova disso." Quando
este treinamento oculto começou está indicado numa citação pelo autor em
seu livro Incidentes da Vida de Madame Blavatsky: "Para tomar isto
claro e inteligível devo explicar: ela nunca fez segredo de que tenha
sido, desde a infância e até mais ou menos 25 anos, uma poderosa médium,
embora depois desse período, devido ao regular treinamento psicológico e
fisiológico,
foi levada a perder esses dons perigosos e cada traço de
mediunidade fora de sua vontade ou de seu direto controle foi superado."
A idade, então, na qual seu definido treinamento nas mãos do Mestre
começou foi aos 25 anos e esta é a época de sua segunda visita à Índia,
de 1855 a 1857. Quando, sem dúvida, foi intensificado e acelerado.
Porém, dessa fase não teremos conhecimento até que, por nossa vez, a
experimentemos.
Contudo, temos o próprio testemunho de H. P. B.:
"Eu estava novamente na casa de M. K., sentada em um canto sobre uma
esteira e ele andando no aposento com sua roupa de equitação e M. M.
estava falando a alguém à porta. Não posso me lembrar... Pronunciei em
resposta à uma sua pergunta a respeito de uma tia falecida. Ele sorriu e
disse: Que inglês engraçado você usa!' Então eu me senti envergonhada,
ferida em minha vaidade e comecei a pensar (imagine você, em meu sonho
ou visão qual seria a exata reprodução do que acontecera, palavra por
palavra, há 16 anos).
Agora que estou aqui e falando nada mais do que
inglês em linguagem verbal fonética posso talvez aprender a falar melhor
do que Ele. Esclarecendo, como o M. M., eu também usava inglês, que
sendo bom ou mau é o mesmo para ele, dado que não o fala, mas entende
cada palavra que digo fora de meu cérebro e eu consigo entendê-Lo -
como? Nunca poderia dizer ou explicar mesmo que me matassem, mas eu o
consigo. Com D.(jwal) K.(ul) eu também falo inglês e ele também fala
melhor do que o Mahatma K. H. Voltando, então, ao meu sonho, três meses
depois, como me parecia naquela visão, eu estava de pé diante do Mahatma
K. H.,
perto do velho edifício demolido para o qual Ele olhava. Como o
Mestre não estava em casa eu passei para Ele umas poucas sentenças que
eu estava estudando em Senzar no quarto de sua irmã e pedi-lhe que me
dissesse se eu as havia traduzido corretamente e lhe dei um pedaço de
papel com as referidas sentenças escritas em inglês. Ele o tomou e leu, e
corrigindo a interpretação que eu fizera, leu-as do começo ao fim,
dizendo: `Agora seu inglês está se tornando melhor.
TENTE PEGAR FORA DE
MINHA CABEÇA O POUCO QUE CONHEÇO DO IDIOMA'.
"Ele colocou a mão em minha testa na região da memória e, esfregando os
dedos nela, senti mesmo a insignificante dor e um calafrio que já tinha
experimentado e desde aquele dia ele fez o mesmo com minha cabeça
diariamente, por cerca de dois meses".
A respeito desses poderes e em vista de suas cartas a irmã Vera (Mme.
Jelihowsky), ela escreveu certa vez: "Não tenha medo que eu esteja
louca.
Tudo o que posso dizer é que "alguém" positivamente me inspira -
mais do que isso, alguém entra em mim. Não sou eu quem fala ou escreve.
É "algo" dentro de mim, meu elevado e luminoso Ser que pensa e escreve
por mim.
Não me pergunte, minha amiga, o que experimento, porque não lhe poderia
explica-lo claramente. Eu mesma não sei. A única coisa que sei, agora
quando estou perto de atingir a velhice, é que me tornei uma espécie de
depósito para o conhecimento de outra pessoa..
. esse "alguém" vem, me
envolve em uma nuvem densa e de repente me separa de mim mesma e então
não sou mais eu, Helena Petrovna Blavatsky, mas uma outra pessoa, alguém
forte, poderoso, nascido em uma região totalmente diferente do mundo; e
quanto a mim mesma, é quase como se estivesse adormecida ou como que
inconsciente
não em meu próprio corpo, mas alo lado, mantida ligada
somente por um fio que me conecta a ele.
"De qualquer modo, algumas vezes eu vejo e ouço tudo completamente
claro; estou perfeitamente consciente do que meu corpo está dizendo ou
fazendo ou, afinal, o seu novo possuidor. Posso entender e recordar tudo
tão bem que depois posso repetir e até escrever suas palavras."
Em uma carta escrita à citada irmã, ela informa que estava aprendendo a
sair do seu corpo e ofereceu fazer-lhe uma visita em Tiflis, cidade onde
esta residia, "num piscar de olhos". Isso tanto assustou quanto
divertiu a irmã que respondeu não -seria necessário, que não se
incomodasse, ao que ela replica em outra carta: "Do que você tem medo?
Nunca ouviu falar de aparições de "duplos"?
Eu quero dizer, meu corpo
pode estar quieto, dormindo na cama e não importaria mesmo se estivesse
esperando o meu retorno já na condição de desperto - o corpo estaria em
uma condição de idiota inofensivo. E não há do que se admirar, a luz de
Deus estaria ausente dele, voando para você; e, então, retornaria e uma
vez mais o templo estaria iluminado pela Divindade. Mas isso,
desnecessário dizer, somente no caso de o fio interligante não ser
quebrado. Se você gritasse como uma louca o fio ficaria rompido... Amém,
então, para a minha existência! Eu morreria instantaneamente..."
Numa carta a outra pessoa, Mine. Jelihowsky informou: "Na primavera de
1878 aconteceu uma coisa estranha à Helena. Tendo se levantado e
começado a trabalhar numa manhã como usualmente, subitamente perdeu a
consciência e não a recuperaria senão cinco dias depois. Tão profundo
era o seu estado de letargia que poderia ter sido cremada, não fosse a
chegada de um telegrama de seu Mestre com a seguinte mensagem: `Nada
receie. Ela não está morta, nem doente, mas precisa de um repouso. Ela
está com estafa excessiva`.
O Prof. Rawson, em um artigo chamado "As Duas Mme. Blavatsky", disse:
"Não tenho dúvidas de que Mine. Blavatsky teve conhecimento de muitos,
senão de todos os ritos, cerimônias e instruções praticados entre os
Druzos do Monte Líbano, porque ela me fala de coisas que somente são
conhecidas pelos poucos favorecidos que têm sido iniciados."
Em relação ainda à estada na casa do seu Mestre, há o seguinte episódio:
ela havia passado vários anos sem dar notícias suas à família na Rússia
e todos estavam até convencidos de que teria morrido. Porém, em 11 de
novembro de 1870 sua tia, Mme. Fadeef, assim escreve: "Aconteceu quando
minha sobrinha estava do outro lado do mundo e ninguém de fato sabia
onde estava. Todas as pesquisas resultaram infrutíferas, causando-nos
preocupação.
Estávamos preparados para aceitar sua morte quando uma
carta dele (O Mestre), a quem vocês chamam Koot Humi, foi trazida da
mais incompreensível e misteriosa maneira a minha casa por um mensageiro
de aparência asiática, que desapareceu ante meus olhos. Esta carta que
me solicitava não ter receio e informava que ela estava em segurança,
ainda a tenho em Odessa (o original está arquivado em Adyar, na sede
internacional da S. T. - nota do tradutor). Ela mostra no canto esquerdo
inferior do envelope, escrito em russo: "Recebida em Odessa em 7 de
novembro sobre Helinka (apelido familiar de H. P. B.), provavelmente do
Tibete. A carta redigida em francês, manuscrita pelo M. K., tem a
seguinte tradução:
"A Honrada e Muito Nobre Senhora Nadyejda Andreewna Fadeef - Odessa. -
Os nobres parentes de Mme. H. Blavatsky não devem se afligir por motivo
algum. Sua filha e sobrinha não deixou este mundo de modo algum. Está
viva e deseja fazer saber àqueles a quem ama que está bem e muito feliz,
no desconhecido e distante recanto que ela escolheu para si mesma. Ela
esteve muito doente, mas não está mais; sob a proteção do Senhor
Sangyas, ela encontrou devotados amigos que a guardam física e
espiritualmente. As senhoras de sua casa podem, portanto, permanecer
tranqüilas. Antes de 18 luas, ela voltará a sua família".
Em 1888, foi publicada em Londres a grande obra de H. P. Blavatsky. Ela
possui dois temas chave: a) Cosmogênese, b) Antropogênese, tendo como
centro teórico as "Estâncias de Dzyan". Estas Estâncias foram traduzidas
de um antigo manuscrito chamado "O Livro de Dzyan" e Blavatsky também
usou alguns comentários escritos em chinês, tibetano e sânscrito. Estes
textos de filosofia esotérica descrevem o surgimento do Universo e o
aparecimento do homem, no planeta Terra.
O "Livro de Dzyan", segundo a escritora (Blavatsky não se considera a
autora da obra A Doutrina Secreta), está intimamente relacionado com o
Livro dos Preceitos de Ouro (fonte dos textos de A Voz do Silêncio) e
com os "livros de Kiu-te", que são uma série de tratados do budismo
esotérico conforme nos mostra David Reigle no livro The Books of Kiu-te
or the Tibetan Buddhist Tantras (Editora Wizards). Em seu treinamento no
Tibet, Blavatsky teve acesso a estes tratados, diretamente ligados à
tradição espiritual mais antiga do Oriente e que foram preservados e
comentados pelo budismo Mahayana.
O grande lama Tsong-Kha-pa (1357-1419), ao reformular o budismo Kadampa,
reorganizando-o como a escola Gelugpa, fez uma série de compilações e
comentários aos principais textos da mais genuína tradição espiritual.
Blavatsky dava muita importância às obras de sua autoria, especialmente
os "Lam Rim" - amplos tratados onde eram usadas as principais fontes,
autores e escolas anteriores, com especial destaque ao pensamento de
Nagarjuna, Asanga e Atisha. E foi em mosteiros Gelugpas que Blavatsky
memorizou, estudou e recebeu instruções orais que mais tarde serviriam
de base para comentários e esclarecimentos.
A palavra Dzyan, que é um termo tibetano, significa Meditação. Ele está
vinculado à palavra sânscrita Dhyana, e tem relações com o termo Zen. Às
vezes também é escrita "Dzyn", o que significa Sabedoria. E tem,
também, uma identidade com a palavra Jnana (Sabedoria). Assim, A
Doutrina Secreta é uma obra que tem no seu contexto e o espírito ¡nana e
"meditativo". São idéias para serem meditadas, refletidas,
investigadas, pensadas, pesquisadas.
Foi o resultado de um grande esforço e trabalho de quatro anos de
Blavatsky procurando ofertar para os estudantes, especialmente os
ocidentais, um instrumento para se buscar uma aproximação à sabedoria
oriental e aos significados profundos da simbologia universal. É um
desafio para a mente do estudante e possui significados cada vez mais
profundos, na medida em que se tenta compreender o espírito dos slokas
(sutras) e fazemos uma conexão entre as diferentes tradições filosóficas
e simbólicas.
Em janeiro de 1884, saiu na revista, The Theosophist a notícia de que
Blavatsky iria escrever uma outra grande obra, ampliando a anterior Isis
sem Véu. Durante os anos de 1884 e 1885 ela dedicou-se a escrever. No
início de 1886, escrevendo ao seu colega de estudos Alfred Sinnett,
disse-lhe que "a cada manhã" surgia uma nova revelação e um novo
cenário. A obra se ampliava em relação ao plano inicial e precisou
reescrever várias vezes alguns dos seus capítulos.
Em setembro de 1886, remeteu da Europa (onde estava escrevendo) para a
índia (Madras) o que seria o volume 1. Mas, em 1887 resolveu escrevê-lo
novamente, com "acréscimos, retificações, cortes e substituições", pois o
material se ampliava. Ela recebia ajuda, tanto dos seus amigos e
colegas de estudos da filosofia esotérica, quanto auxílio de seus
instrutores orientais.
Ainda em 1887, Blavatsky esteve bastante doente, à beira da morte, tendo
recebido uma visita incomum: um dos seus Instrutores tibetanos esteve
com ela e deu-lhe, segundo suas próprias palavras, a seguinte opção: "ou
morrer, libertando-me (do corpo doente), ou continuar viva para
terminar A Doutrina Secreta...". Tendo se recuperado, manteve seu
contínuo esforço descrito como de imensa dedicação na tentativa de
concluir esta obra, que ela considerava como a sua grande contribuição a
todos os sinceros estudantes da tradição sabedoria.
Na primavera de 1887, foi residir em Londres, onde tinha um grupo de
estudantes que a auxiliava na revisão dos textos e na confirmação das
centenas de referências e citações que a obra fazia, pois a biblioteca e
os livros pessoais de Blavatsky não passavam de 20 volumes, incluindo
dicionários. Após esses perseverantes esforços, a Doutrina Secreta foi
publicada, simultaneamente em Londres e Nova Iorque, no final do mês de
outubro de 1888. As palavras finais de Blavatsky foram: "esta obra é
dedicada a todos os verdadeiros teosofistas".
A obra mostra a unidade original de todas as religiões, dando bastante
destaque ao simbolismo universal - fruto da linguagem comum existente em
um passado remoto. A Doutrina Secreta foi a primeira grande tentativa,
no Ocidente, de se publicar as chaves para o estudo das diferentes
tradições, a partir de fragmentos da filosofia esotérica.
Segundo suas
palavras, o primeiro passo. consistia em "derrubar e arrancar pela raiz
as árvores venenosas e letais da superstição, do preconceito e da
ignorância presunçosa". O estudante da sabedoria esotérica deve perder
inteiramente de vista as personalidades, crenças dogmáticas e as
religiões particulares, e investigar o que existe de comum e essencial
em todas as tradições.
No prefácio da primeira edição era dito: "esta obra não é a Doutrina
Secreta em sua totalidade; contém apenas um número selecionado de
fragmentos dos seus princípios fundamentais". Como dissemos
anteriormente, o centro da obra são "As Estâncias de Dzyan", que ela
comentou, ampliando as relações do simbolismo, fazendo correlações com
as diferentes religiões, filosofias e idéias científicas da época.
Tanto
as "estâncias" quanto as ampliações não foram expostas como alguma
revelação, mas sim encerram ensinamentos que se podem encontrar nos
milhares de volumes que formam as escrituras das antigas religiões
asiáticas e das primitivas religiões e filosofias herméticas ocidentais.
O que Blavatsky procurou fazer foi uma brilhante síntese, mostrando que
há uma unidade nessas antigas tradições. Ao mesmo tempo que indicava um
horizonte bem mais amplo para as idéias relativas à Cosmologia e sobre a
história da raça humana, desde uma imemorial idade até os tempos
modernos.
Vários dos seus alunos deram depoimentos sobre esta magna obra. A seguir
destacamos alguns deles, para sugerir o universo desta renomada
publicação: Annie Besant - "O valor de A Doutrina Secreta não está em
seus materiais considerados isoladamente, mas na incorporação deles em
um todo amalgamado e coerente...".
Bertran Keightley - "Quanto ao valor da obra, competirá a posteridade o juízo final. Pessoalmente, expresso minha convicção de que, estudada com profundidade, A Doutrina Secreta será apreciada como de inestimável valor e oferecerá sugestões, chaves para solução dos problemas e orientação no estudo da Natureza e do Homem, e de tal ordem jamais encontradas em qualquer outra obra". | |
| William Judge - "Ficou claramente estabelecido que o livro deveria ser feito de um tal modo que obrigasse o estudante esforçado a buscar muitas, verdades profundas... Todo estudante zeloso fará bem em não passar superficialmente sobre nenhuma parte do livro". |
William Kingsland - "O ensinamento deve ser captado
intuitivamente, mais que intelectualmente, porém, ao mesmo tempo é dado
em uma forma que permite apreciar cada novo avanço no conhecimento
científico, como afirmação do mesmo".
COMO ESTUDAR A DOUTRINA SECRETA
Um dos seus alunos, Robert Bowen, fez algumas anotações a partir dos
comentários de Blavatsky ao grupo de estudantes do "Grupo Interno" da
Loja Blavatsky. Redigiu-os apresentando depois à instrutora para ver se
não existia algum erro de compreensão.
A principal sugestão é que não se deve ler este livro como os outros,
isto é, do início ao fim seqüencialmente. Mas que existem algumas etapas
preliminares:
a) procurar compreender os Três Princípios Fundamentais apresentados no Proêmio (Vol.I);
b) estudar a Recapitulação numerada que está no Resumo do Vol.I;
c) refletir sobre as Notas Introdutórias do Vol.III (edição em português);
) estudar a Conclusão do Vol.III.
(*)Alfred Percy Sinnett
Fonte:levir.com.br
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